Olá Uma vez que o nome da rubrica tem sido sistematicamente posto em causa aqui fica o texto que enviei para a soc.culture.portuguese por alturas de Maio de 1995 relativo a acesa discussão que por lá passava sobre a propriedade do nome ser como é. Carlos Bispo -------------------------------------------------------------------------- Olá a todos Sobre esta complexa e interessantíssima saga do nome das coisas achei que dado o entusiasmo que o tema mereceu competeria ao pai da criança vir aqui explicar a razão do baptismo. O título "Versos de Segunda" pretende exactamente usar a irónica duplicidade que o termo "segunda" significa dado que os ditos VdS são regularmente publicados às segundas... feiras, está claro. Parecer-me-ia que isto pertencia à classe das verdades de La Palisse... mas a recente discussão fez-me perceber que nem tanto e que há neste mundo mais ovos de Colombo do que eu suspeitaria e também me fez recordar uma história de um velho, um rapaz e um burro que foram à feira, que me lembro de ter lido lá para os lados da minha Escola Primária (se não se lembram apitem que eu conto). Os poemas por mim selecionados são aqueles de que eu gosto mais, ou noutros casos, aqueles que não gosto menos. Nesta medida em que dependem dos meus gostos (e já agora da limitada colecção de poesia que tenho aqui), podem ser considerados por outros literalmente de segunda em vez de serem apenas versos de primeira publicados à segunda. Nesta linha de raciocínio o título da coisa serve também de salvaguarda. Costuma-se também dizer de coisas de comida de pôr no prato que quem não gosta põe à borda do dito. E eu acrescento que o faça sem chatear o cozinheiro ou se a coisa estiver tão má que seja intragável a algum comensal que vá à cozinha e arranje um outro acepipe de cores mais garridas e/ou sabores mais à maneira da pessoa que rejeitou o prato inicial. Aqui ninguém é obrigado a comer da ração. De qualquer dos modos este cozinheiro não teme qualquer espécie de concorrência nem detem o exclusivo da cozinha. Antes incentiva a concorrência com todo o fervor porque se a escolha for entre qual é o jogador que dá mais canelada no adversário ou um belo poema do Álvaro de Campos este cozinheiro não tem quaisquer dúvidas em optar pelo segundo acepipe em claro detrimento do primeiro (aqui "primeiro" e "segundo" são usados no sentido ordinal classificando a ordem de listagem e não se referem à atribuição de uma classificação relativa à sua relativa qualidade). Posto que tenho dito o essencial do que vinha aqui dizer, creio não ser mais útil crescentar outras tonalidades à pintura a não ser talvez que muitas vezes a falta de assunto faz-nos criar assunto só para podermos coçar as costas uns aos outros por entre bocejos de lânguido prazer. É que esta história toda de discutir a propriedade de a coisa se chamar como se chama é manifestamente falta de assunto e própria talvez do espírito de fim de ano escolar que se aproxima com um longo Verão de sol pela frente. Abraços Carlos --------------------------------------------------------------------------